Monday, March 26, 2007

A solidão e o bicho-carpinteiro

Vivo com meu marido e dois cães. Umas gracinhas (os três). No ano passado passei um mês viajando, dando uma mão pra minha irmã que não mora por aqui. Todos os dias em que eu falava com ele, alguma coisa nova tinha acontecido na casa, ou nas nossas vidas. Uma nova aquisição, um defeito consertado que já estava caducando... Me lembro de ficar impressionada com a quantidade e a qualidade de coisas feitas por ele enquanto eu estive fora e, mais ainda, de não entender tamanho entusiasmo(?). Atualmente estou passando por uma situação semelhante, embora invertida: ele viajou, e nós três ficamos por aqui. A solidão parece vetora do bicho-carpinteiro. Embora ele não vá ficar fora um mês (ufa!), a vontade de fazer as coisas é esquisita: foram incontáveis meses em que eu fiquei pensando que queria arrumar nossas estantes de livros e nunca o fazia. Fiz. Tenho levantado mais cedo - o que é inimaginável para quem me conhece - para dar comida e passear os cachorros antes de sair pra trabalhar. Tenho voltado direto pra casa para passeá-los de novo antes de dormir. Tenho estudado todos os dias para uma prova que está quase aí. Fui ao supermercado e comprei as coisas que estavam na lista que ele fez (e naquela outra lista que estava na minha cabeça há séculos). Enfim, acho que até eu virei uma gracinha. E hoje, pensando em tudo isso, descobri que o que eu quero mesmo é que ele volte para uma casa melhor (nem que seja um poucochinho). E que eu tô com saudade.

Volta logo pra ficar à toa comigo!

Monday, March 19, 2007

Lacrimatório

Lacrimatório [Do lat. tard. lacrimatoriu, por via erudita.]Adj. 1. Relativo a lágrimas. S. m. 2. Vaso que se depositava nas sepulturas romanas e, ao que se supunha, guardava lágrimas dos visitantes

Na semana passada uma cadela vira-lata entrou no escritório onde trabalho. Entrou e se achou a dona do pedaço. Parecia aquele cachorro Benji, só que cinza e mais magrinha. Mesmo cheia de carrapichos, encardida e manchada de tinta branca ela era bem bonitinha. Fez festa pra todo mundo, deu pulos super altos para chamar a atenção, abanou o rabo como se conhecesse a todos há vários anos e estivesse passando pra fazer uma visitinha. E não queria sair de jeito nenhum. Eu mesma tentei, chamando a bichinha até a porta, ver se ela voltava pra rua. Qual o quê! Não saía nem a pau! E seguiu pessoas e deitou no chão e fez mais festinhas... Finalmente, depois de uns 5 ou 10 minutos, um dos funcionários a colocou pra fora. Não fiquei preocupada, porque ela estava longe de ser um filhote. Atravessou a avenida olhando para os dois lados e se encontrou com outro vira-lata, esse macho, que tentou cruzar com ela atrás de um caminhão. Parei de reparar. Segundos depois, vimos que ela tinha sido atropelada por um motoqueiro e havia morrido na hora. Chorei, como se ela fosse mesmo uma conhecida de vários anos.